22 de dezembro de 2008

Conservação de Áreas Verdes nos Centros Urbanos

Nos dias 15 e 16 de dezembro, participei do I Seminário Internacional de Reservas da Biosfera em Ambientes Urbanos, realizado em Florianópolis/SC.

Com o objetivo de discutir, estimular e orientar a conservação de áreas verdes nas cidades e, principalmente na capital catarinense, o evento contou com a participação de autoridades locais e internacionais, entre eles, Miguel Clusener (Coordenador Geral do Programa MAB – UNESCO), Ruben Pesci (Presidente da Fundação CEPA), Clayton Lino (Presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica), e representantes do governo.

Durante o evento foram expostos cases como o cinturão verde de São Paulo. As construções de grandes empreendimentos e casas em encostas de morros e a abertura de rodovias em meio a áreas verdes foram apontadas pelos palestrantes como impactos negativos do crescimento desordenado das cidades. O quadro abaixo apresenta aspectos sociais, econômicos e ambientais dessa relação entre cidades e natureza.


O movimento de conservação da biosfera nas cidades, criado a partir do programa da Unesco, o MAB (Man and Biosfery – Homem e a Biosfera), produz conhecimentos científicos que norteiam as ações dos responsáveis pela gestão dos recursos naturais. A elaboração inclui a participação de pesquisadores, planejadores, responsáveis pela gestão de recursos naturais e populações afetadas. “Seu objetivo geral é obter, tanto a partir das ciências exatas e naturais como das ciências sociais, as bases necessárias para o uso racional e a conservação dos recursos da biosfera, e a melhora das relações globais entre o homem e seu meio ambiente, assim como também para prever as repercussões das ações presentes sobre o mundo de amanhã, pondo assim o homem em melhores condições para administrar de maneira eficaz os recursos naturais da biosfera." (UNESCO 1971)

Incentivar e promover o contato do homem com ambientes naturais faz parte do processo de conservação. Conhecemos a natureza apenas por inscrições em rótulos dos produtos nas prateleiras do supermercado. A dificuldade em estimular a preservação do que não se conhece decorrente da privação crescente de contato direto com a natureza sofrida por populações dos centros urbanos, tem influência no grau de consciência e da participação destes nas ações.

Ao final do evento foi criada uma rede ibero-americana de proteção da biosfera, com o objetivo de auxiliar na divulgação e implementação da conservação das áreas verdes em centros urbanos, fortalecendo grupos de diversos países e difundindo informações que contribuam com suas ações.

Iniciativas como essa já são reconhecidas e implementadas em outras regiões do mundo, por exemplo:

- Na França, as chamadas Ville Durable, Vilas Sustentáveis, com princípios no desenvolvimento sustentável e que contemplam aspectos sociais, econômicos, ambientais e culturais pautadas num urbanismo ecológico

- Na cidade de Montreal, o eco-quartier consiste em um organismo responsável que promove a educação, informação e mobilização os cidadãos do seu distrito. Tem como objetivos a promoção da eco-cidadania Montreal de hábitos de vida, apoio às preocupações ambientais dos cidadãos, melhorar a limpeza dos bairros Montreal, embelezar a paisagem urbana, o enriquecimento do patrimônio vegetal da região.

Particularmente, considero urgente a discussão interdisciplinar e, acima de tudo incorruptível, sobre a maneira pela qual as cidades são desenvolvidas. Estes desastres ambientais no estado onde resido (Santa Catarina), são não somente tristes e alarmantes, mas resultado de um desenvolvimento urbano que desobedeceu aos limites entre a natureza e a civilização. É de conhecimento público a barganha de licenciamento ambiental, permitindo construções em locais sujeitos a inundações. Todos nós, por sermos coniventes e passivos a muitas destas irregularidades, também somos um pouco responsáveis, e na busca por exercer a solidariedade pelos mais afetados nas catástrofes, devemos repensar nossas atitudes sociais, assim como também a falta de atitude.

Para finalizar, existem dois eixos em que a comunicação tem papel fundamental e que gostaria de destacar aqui.

O primeiro é na coordenação de redes, na abertura e manutenção dos canais pelos quais essa vai se comunicar. Não é uma tarefa simples, pois muitos de seus participantes são profissionais envolvidos com outras grandes instituições e possuem suas agendas de compromissos cheias. Portanto, a estratégia deve incitar a participação dos envolvidos. São diversos os meios de comunicação utilizados, como internet, jornais impressos e eventos.

A outra linha com potencial para desenvolver a comunicação, refere-se a integração dos três principais públicos envolvidos no processo de conservação em ambientes urbanos. O quadro abaixo indica a necessidade de estabelecer meios de integração entre diferentes grupos.


Conclui-se que é fundamental executar atividades de comunicação que promovam o diálogo e a troca de informações em busca de um consenso que vá ao encontro da sustentabilidade.

3 de outubro de 2008

REVELAÇÕES SOBRE O CONTINENTE GELADO E SUA GESTÃO AMBIENTAL



A Península Antártica (ou Antártida), exerce uma função essencial para a manutenção do clima global e das correntes oceânicas. É também reconhecida internacionalmente como laboratório natural, fonte de informações e espaço para observações.

O continente é uma região de cerca de 14 milhões de km, 98% cobertos por gelo, exceto por algumas zonas de elevado declive nas cadeias montanhosas. O gelo forma as plataformas, ou banquisas, que se estendem em direção ao mar e quando se desprendem são os chamados icebergs.
Setenta por cento da água doce da Terra estão nessa região. Apesar disso, ela é considerada o maior deserto do planeta em razão do nível de precipitação anual ficar entre 30 a 70 mm, enquanto que em regiões brasileiras do semi-árido como no Nordeste e Sudeste a média é de cerca de 750 mm.
As espécies animais encontradas no local são compostas por lulas, baleias, focas, pingüins e aves como albatrozes e petréis. Para todas elas, o krill é uma importante fonte alimentar. Sua variedade de plantas também é limitada entre espécies de musgos e hepáticas. As condições climáticas locais são tão rígidas (recorde de frio -88oC), que também impossibilitam a formação de uma população humana em caráter permanente, sendo seus moradores temporários os cientistas e pessoal de apoio.

James Cook foi o primeiro navegador a atravessar o continente em 1773, porém somente em 1821 é que aportou o primeiro navio. O século XIX também é marcado por intensa atividade dos baleeiros.

Em janeiro deste ano, eu trabalhava no navio Star Princess, e essa foi a primeira vez que esse navio visitou a região.


Antártida e Gestão Ambiental
A Companhia Marítima Princess Cruises implantou uma série de procedimentos para cumprir com as leis e normatizações de proteção ambiental do continente antártico. Entre elas, a empresa realizou uma palestra para todos os tripulantes, com o objetivo de sensibilizar todos envolvidos durante a passagem pela Antártica. A essência deste blog sempre foi a importância da sensibilização dos envolvidos no processo de implantação de ações de preservação ambiental. Nesta situação o que me instigou foi que me vi do outro lado da minha linha de pesquisa. Por tantas vezes, observei e analisei para quem e de que maneira são elaboradas essas palestras, e desta vez me vi na platéia e com objetivos bem diferentes. Ali eu era uma funcionária que nada tinha a ver com o setor ambiental do navio. Era apenas mais um membro da tripulação, e como tal assistiria uma única palestra através da qual a companhia objetivava sensibilizar para que nos próximos dias eu viesse a cumprir todas as diretrizes ali expostas como: redução de despejo de lixo, cancelamento de lavagem de roupas, banhos rápidos, verificação se passageiros e outros tripulantes estavam cumprindo as normas. Inclusive, deveria notificar o oficial responsável caso, por exemplo, alguém ferisse um animal ou jogasse uma ponta de cigarro no mar.

Ainda pensando nas minhas atividades no Brasil, fui mais além e consegui informações que elucidaram a base das diretrizes e normas estabelecidas, com o intuito de entender como funciona a gestão ambiental do continente mais misterioso, intocado e relevante do nosso planeta e o que ele pode nos ensinar dentro da gestão ambiental de lugares ainda preservados e de relevância ambiental.

O que percebi é que, constitui-se de um conjunto de instituições que delimitam e definem diretrizes, normas e leis em diferentes aspectos. A seguir, estão destrinchadas quais são elas e suas principais atividades relacionadas a gestão ambiental do continente.

1. Tratado da Antártica
O tratado estabelece o quadro jurídico internacional para a gerência de Continente Antártico, visando assegurar a proteção do local, reconhecendo as oportunidades originais para a monitoração e a pesquisa científicas de importância regional e global. O protocolo desenvolvido pelo grupo consiste em 27 artigos e em 5 anexos, que propõem princípios de conservação para a área e definem estritamente como as atividades devem ser conduzidas.
Entre alguns acordos definidos pelo tratado estão:
- Limitação das reivindicações territoriais de modo que tais reivindicações não sejam reconhecidas, disputadas e estabelecidas;
- Estabelecimento das condutas aceitáveis para incluir somente atividades pacificas, investigativas e de cooperação especificamente científicas entre nações;
- Proibição de explosões nucleares e deposição de radioatividade desperdiçada.
- Relatórios anuais das atividades: Todas as companhias de navegação que circulam pela área devem elaborar um plano de avaliação com cópias para todos os membros do conselho, sujeito a comentários. Este plano deve incluir inspeções prévias com relatório, oficiais experientes e treinados, treinamento com os demais, gestão de resíduos, procedimentos em caso de emergência, disseminação de informações continentais.


2. Ato Antártico da Conservação (ACA)
O ACA é administrado pelo National Science Foundation (NSF), uma agência do governo dos E.U.A. Determinados empregados do NSF, em Continente Antártico, são designados oficiais da aplicação, e são responsáveis para assegurar a conformidade com regulamentos. Eles geram autorizações e realizam as inspeções e apreensões das violações identificadas.
Algumas das penalidades civis e criminosas definidas (sujeito à prisão e multa) são:
- Captura de mamíferos, de pássaros ou de plantas nativas;
- Interferência prejudicial aos mamíferos, pássaros ou plantas;
- Entrada em Áreas de Proteção Especial da Antártica (ASPA);
- Introdução de espécies de outras regiões do planeta;
- Introdução de substâncias designadas como poluentes;
- Descarga ou eliminação de poluentes;
- Importação de artigos antárticos.


3. Associação Internacional de Antártida Turismo Operacional (IAATO)
A IAATO foi formada em 1991, com o objetivo de promover e praticar o turismo de segurança e responsabilidade ambiental na Antártica. A organização estabeleceu diretrizes e procedimentos para a proteção do ambiente local, que todos os membros (embarcações, oficiais, equipe de funcionários e turistas) devem estritamente cumprir.
Fornecem diretrizes de funcionamento padrão a fim minimizar o distúrbio dos animais selvagens e proteger cetáceos e aves marinhas, ao assegurar uma experiência de observação da qualidade máxima pela observação responsável, assegurando-se de que os testes padrões normais da atividade diária e sazonal dos animais sejam mantidos.


4. Convenção para a Prevenção da Poluição de Navios (MARPOL)
As provisões do MARPOL da Dinamarca estendem-se dentro da área Península Antártica, a menos que substituído por umas exigências mais estritas do Tratado Antártico ou do Ato Antártico da Conservação.


5. Princess Cruises - Sistema de Gestão e Segurança
A companhia desenvolveu, para todos seus navios, regulamentos que continuam a aplicar-se às embarcações na área Antártida, a menos que substituídos ou acrescidos por regulamentos internacionais ou pelos regulamentos dos E.U.A:

• ENV.0. 1 Padrões ambientais no mundo inteiro para cruzeiros
• ENV.3.1 Plano da gestão de resíduos
• ENV.3.3Plano de gestão dos resíduos perigosos

Entre as suas atividades de minimização da poluição para Antártica estão:
- Cancelamento das atividades de manutenção externa;
- Cancelamento do uso de mercadorias descartáveis nos decks abertos;
- Não é permitido fumar em plataformas abertas (inclusive passageiros
- Não é permitido lavagem da plataforma;
- Não é permitido baixar barcos na água;
- Manutenção de patrulha para auxiliar passageiros na eliminação de lixos e cuidados com objetos que possam vir a cair no mar;
- Fechamento das quadras e armazenamento dos materiais desportivos das áreas externas.




Identificam-se dois aspectos que contribuem para a formulação, cumprimento e fiscalização das diretrizes e normas ambientais na Península Antártica, assim como as penalidades atribuídas às inadimplências.
Primeiramente, o difícil acesso ao continente permite o isolamento geográfico da área conseqüentemente reduz o número de grupos exploradores, numa escala menor isso pode ser observados em outras áreas.
O segundo aspecto refere-se a sua importância na manutenção climática global, pois mesmo os exploradores tendem a ter uma certa cautela ao atuar na região.


“Pense globalmente e haja localmente”
Podemos refletir sobre os diversos aspectos desta postagem e nos empenharmos em buscar soluções nas nossas localidades. Os caminhos são diversos, como identificar áreas ainda preservadas, de difícil acesso, analisar suas maiores potencialidades cientificas, e os principais motivos pelos quais elas devem ser preservadas (neste caso, verificar a existência de espécies endêmicas sempre atribui pontos favoráveis neste sentido).

O esforço coletivo para buscar soluções na área de pesca e turismo também pode ser levantado aqui. Instigar diferentes grupos a discutir as diretrizes e normas existentes, aprimorá-las e criar novas com base em resultados de pesquisas desenvolvidas e conhecimento das comunidades locais. A agenda 21 e órgãos municipais, por exemplo, são extremamente decisivas neste processo. Os resultados alcançados promovem um ambiente seguro e saudável, conservando também suas belezas e características naturais, sendo positivos para moradores, empresas e turistas que buscam lugares com qualidade ambiental para desfrutar suas horas de lazer.

A base da questão é, não somente a Antártida é importante na conservação do clima global, claro ela é indiscutivelmente mais importante devido a uma série de características como já foi falado, mas frente ao estágio do aquecimento global em que nos encontramos, qualquer esforço que venha inspirado no modelo que se tem no continente gelado, vai também ser relevante no contexto local e até mesmo global. Sabemos, por exemplo, que o desmatamento na Amazônia afeta a pluvialidade no interior de Santa Catarina.

Dois princípios que estão em alta, o turismo educativo e monitorado e a pesca regulamentada, para evitar atividades abusivas como pescas feitas com explosivos. Informações divulgados pela MARPOL ou IAATO podem servir de diretriz na elaboraçao de planos locais em turismo e pesca.

Para encerrar, a quem se interessou pelo tema, listei alguns links que certamente podem ser utilizados, não somente para entender mais a respeito da nossa realidade nacional no que diz respeito à pesca e turismo, mas também no desenvolvimento de projetos junto às entidades que elaboram normas e diretrizes, muitas vezes pautadas em pesquisas científicas e em prol da sustentabilidade.


http://www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/ Vale muito a pena conferir legislação e também o site so CEPSUL (Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul (CEPSUL) órgão que visa identificar alternativas potenciais às pescarias com menor impacto sobre o meio.
http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18 Agenda 21
http://www.turismo.gov.br/ Projetos na área de turismo.
http://www.ibama.gov.br/zoneamento-ambiental/areas_prioritarias/ Soldadinho foi eleito como um alvo para a conservação do bioma Cerrado


De volta ao Brasil.


Minha temporada de trabalho em cruzeiro marítimo encerrou em meados de junho, desde então, venho coletando informções atuais para retomar minhas postagens.
Atualmente residindo na ilha de Florianópolis em Santa Catarina, busco me integrar aos grupos de pesquisas e atividades ambientais locais. A Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC - tem sido essencial para isto, pois lá são promovidos eventos que abordam a temática ambiental. Desde que cheguei aqui participei de muitos deles, inclusive da reunião do conselho gestor da APA da Baleia Franca. Aos poucos trarei as informações mais relevantes que eu recolher neste meu processo de me interar do que vem acontecendo nestes últimos meses.

Tenho, também, novidades trazidas da minha viagem. O navio no qual trabalhei passou por diversos países, mas destacarei a Península Antártica e Alaska, devido ao enorme potencial para debater o tema.

Antes de iniciar as postagens sobre a viagem, ressalto dois dos eventos que presenciei na UFSC.

A Mostra “FICA na UFSC” de cinema ambiental. Realizada em agosto, com apoio da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC e da Agência Goiânia de Cultura Pedro Ludovico Teixeira, e dirigido por Leandro Belinaso Guimarães. O evento foi resultado da 10ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), realizado sempre no mês de junho em Goiás.
Os filmes que mais me chamaram a atenção foram:
· THE JUNGLE BEAT: batida na floresta (Adrian Cowell, Reino Unido / Brasil) – Documentário sobre a atividade madeireira x IBAMA de Mato Grosso, dando destaque para um funcionário chamado Valmir que tem enfrentado situações de risco para proteger o que é de todos nós.
· DELTA, OIL’S DIRTY BUSINESS (Yorgos Avgeropoulos – Grécia)– Documentário sobre a atividade petrolífera com enfoque nos prejuízos comunitários e ambientas de uma empresa que simplesmente ignorou estes aspectos negativos e a guerrilha resultante desta situação.
No mesmo período, destaco a aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, que em mesa-redonda debateu o tema ´Ecologia e problemas ambientais`, tendo como palestrantes a procuradora da república em Santa Catarina Ana Lucia Hartmann, o professor da Unicamp Thomas Lewinsohn e o professor da UFSC Danilo Wilhelm Filho.
Dois assuntos levantados durante o evento referiam-se ao caráter cientifico das universidades, na metodologia de formação de profissionais da área, levando em consideração saídas de campo e produção cientifica. O outro assunto, abordou o licenciamento ambiental. De acordo com a procuradora "parte dos empresários do Estado quer simplesmente ocupar os espaços e construir sem nenhuma preocupação com o que está deixando para trás" (http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/conteudo_276709.shtml ).
A discussão foi alicerçada no equilíbrio entre o desenvolvimento e a conservação.
Na próxima postagem revelarei algumas informações a respeito da gestão ambiental na Península Antártica, o continente gelado.