25 de abril de 2007

A Opinião Pública no processo de criação de Unidades de Conservação

Durante a reunião do Conselho Gestor da APA BF, realizada no dia 31 de março de 2007, a líder comunitária e integrante do CG, Cidinha, fez a apresentação sobre a Reserva Extrativista da Pesca Artesanal - RESEX - de Imbituba/Garopaba. A idéia da reserva foi formulada dentro do fórum da Agenda 21 local e durante o primeiro evento da pesca artesanal há dois anos. O passo seguinte foi a formação de um grupo de trabalho para planejar a criação da Resex, com o apoio das lideranças regionais do setor.
Desde então foram criadas inúmeras ações com a finalidade de inf
ormar e motivar a participação da comunidade como, por exemplo, a promoção de diversas reuniões de esclarecimento nas comunidades em relação às possibilidades da pesca artesanal em uma RESEX. Diversos órgãos públicos foram convidados a participar. Até o momento, foram realizadas 15 reuniões para o esclarecimento das populações das lagoas e 10 reuniões para aplicação de questionário de pesca artesanal nos ranchos de pesca. Dando continuidade à discussão sobre a RESEX de Ibiraquera, foi realizado o II Encontro da Pesca Artesanal de Imbituba e Garopaba.
Na mesma reunião da APA, outra líder comunitária, Marlene apresentou a proposta da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável - RDS - dos areais da Ribanceira. Durante a I Feira da Mandioca de Imbituba em 2004 iniciaram as discussões sobre a possibilidade de criação desta Unidade de Conservação Federal. Em 2005 a proposta foi apresentada para a comunidade em geral na busca de apoio. Buscou-se o apoio também de instituições públicas e privadas por meio da construção de um fórum de debates sobre a RDS. Promoveram-se outras reuniões de mobilização nas comunidades para esclarecimento. Organizaram-se três Feiras da Mandioca, aproveitando para fazer a discussão da RDS com várias entidades públicas. Também se realizou Circuito RDS de Surf.
As ações executadas foram extremamente importantes para consolidar a futura aprovação destas unidades. Embora ainda existam grupos contrários as reservas, a comunidade unida fortaleceu o processo de criação delas. O fenômeno da Opinião Pública favorável a elas contribuiu para este fortalecimento.
No caso da RESEX e da RDS, alguns fatores contribuíram para a formação da opinião pública. Acredita-se que a opinião seja formada por um conjunto de costumes, crenças, fatores econômicos, estrutura interna dos grupos, mobilidade social, grau de urbanização, tradições, classes sociais, valores sociais etc. Estas líderes, por fazerem parte das comunidades, automaticamente assimilaram cada um destes fatores. Por esta razão nota-se o quanto é relevante a aproximação com estes líderes e um estudo minucioso destes fatores antes de implantar as ações dentro das comunidades, com o objetivo de considerar cada uma suas características.
Outro aspecto fundamental para a formação da O.P. é o grau de informação que as pessoas possuem sobre o assunto, pois elas costumam opinar mesmo quando estão mal informados. Nos dois projetos de UC este aspecto foi profundamente trabalhado para que a maior quantidade possível de informação fosse repassada aos envolvidos, principalmente da maneira como foram conduzidas as atividades de comunicação, pois predominaram reuniões comunitárias que, de acordo com Sarah Chucid da Via (1983, p. 12) “tem-se supervalorizado a influência dos meios de comunicação de massa na formação da O.P. Porém, análises recentes mostraram a permanência e a importância da influência pessoal no processo de opinião”.
O processo de formação de O.P., em ambos os casos, compreendeu os estágios pré-estabelecidos por Daniel Katz (1983, p. 40)

  1. Notabilidade de um problema: preservação das características culturais e ambientais das regiões
  2. Discussão do problema: Abertura para discussões sobre o assunto nos eventos regionais
  3. Formulações de soluções: criação de grupos de trabalho
  4. Mobilização final da opinião: reuniões comunitárias e eventos

Ainda de acordo com o texto de Via algumas outras estratégias devem ser adotadas na formação da opinião pública.

  • Verificar as atitudes, expressões, manifestações, seus estímulos e a estrutura social e econômica na qual o grupo que se pretende atingir esta inserido;
  • Promover ou procurar um exemplo de acontecimento que justifique e esclareça ao grupo sua opinião e a razão;
  • Criar estereótipos que reforcem positivamente suas características e enfraqueça a imagem dos oponentes;
  • Pedir aos membros do grupo que se manifestem através de palavras, não de atitudes. Depois é necessário interpretar e analisar os dados obtidos.
Infelizmente, é raro obter apoio unânime. Segundo Cidinha, existem pessoas que não conhecem o processo ainda e que ao serem informadas sobre as possibilidades aderem ao movimento e lutam pela criação da UC e outros que não participam e por comodismo não se envolvem e ainda os que recebem desinformação e se posicionam contrariamente a proposta. Existem ainda os que conhecem a proposta e acabam criando uma resistência por possuírem interesses particulares assim como os setores econômicos que não querem estes tipos de UC por serem mais restritivas que uma APA. Quando as pessoas envolvidas buscam a informação sobre o assunto, acabam por acreditar no potencial da proposta.
Após o delineamento final da RESEX de Imbituba/Garopaba e da RDS dos Areais da Ribanceira, os processos serão encaminhados às prefeituras para consultar o executivo e legislativo municipais, agregar informações e estabelecer limites mais concretos. Após esta fase é agendada uma consulta pública nas comunidades para explicar para TODAS as pessoas sobre os limites e as possibilidades das reservas. Momento de sacramentar a proposta de limites delas.
A opinião pública "é a causa e efeito das atividades de Relações Públicas. O poder da opinião pública afeta decisões gerenciais e é função dos profissionais Relações Públicas identificar essa opinião e comunicá-la e explicá-la para a administração
[1]".
O importante é estar sempre atendo às manifestações dos envolvidos e nunca desanimar, pois “a vinda destas unidades de conservação é um somatório imprescindível de esforços para a conservação do ambiente em que os extrativistas têm o potencial de gerenciar seus recursos naturais[2].”

Juliana A. Clementi
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[1] GRUNING, James E. Apud Gutierrez Fortes, Waldyr, 2003, p. 31
[2] Ata APA BF 31/03/2007
Foto da postagem retirada do site www.guiafloripa.com.br

Planeta Terra


No último dia 22 comemorou-se o Dia da Terra. Criado em 1970 pelo Senador norte-americano Gaylord Nelson, apenas a partir de 1990 outros países passaram a celebrar a data. Em homenagem a este dia, nesta postagem extraí trechos comoventes do documentário “Uma Verdade Inconveniente” do ex vice-presidente dos EUA, Al Gore.

“Em 3 de abril de 1989, meu filho se soltou da minha mão e correu atrás de um amigo que atravessou a rua, ele tinha 6 anos. Uma máquina ficou respirando por ele, nós podíamos perdê-lo, até que finalmente conseguiu respirar, ficamos no hospital por um mês. Foi quase como se olhássemos para o calendário e nada mais importava, tudo parecia insignificante. Ele era muito corajoso, era um menino muito corajoso. Isso virou meu mundo de cabeça para baixo e depois o sacudiu ate cair tudo. Minha relação com o mundo, tudo mudou para mim. Como ia passar meu tempo nessa terra? Eu realmente me esforcei, tentei saber mais profundamente sobre isso. Fui para Antártida, Pólo Sul, Pólo Norte, Amazonas. Fui a lugares onde os cientistas podiam me ajudar a entender partes da questão que realmente não entendia a fundo. A possibilidade de perder o que eu tinha de mais precioso me deu uma habilidade que talvez eu não tivesse antes. E quando percebi também que realmente podíamos perder a Terra. Aquilo que damos por certo pode não estar aqui para nossos filhos [...]
Até resolvemos uma crise ambiental antes, o buraco na camada de ozônio. Diziam que era impossível resolver porque era um desafio ambiental global que requer a cooperação de todas as nações do mundo, mas nós aceitamos [...] agora temos que usar nossos procedimento políticos na democracia e decidirmos agir juntos para resolvermos esses problemas, temos que ter uma perspectiva diferente sobre este. Ele é diferente dos problemas que já enfrentamos [...].
É o nosso único lar, é isso que está em risco, a nossa capacidade de vivermos no planeta terra, de termos um futuro como civilização, acredito que isso seja uma questão moral, é hora de vocês assumirem essa questão, é hora de lutarmos novamente para asseguramos nosso futuro.
As gerações futuras poderão ter a chance de se perguntar: Em que nossos pais estavam pensando? Por que não acordaram quando tinham a chance? Temos que ouvir essas pergunta deles agora.
Estão prontos para mudar o modo como vocês vivem? A crise climática pode ser resolvida.
Para começar entrem no
www.climatecrisis.net. Você pode reduzir suas emissões de carbono, na verdade você pode reduzir suas emissões de carbono à zero.
Compre aparelhos eficientes e lâmpadas, ajuste o termostato, poupe energia com aquecimento de refrigeração, climatize sua casa, utilize isolamento térmico, avalie, recicle. Se puder compre um carro híbrido, sempre que puder ande e use a bicicleta, onde puder use o transporte público. Peça que seus pais não destruam o mundo que você vai viver, se for pai junte-se a seus filhos para salvar o mundo em que viverão. Passe a usar fonte de energia renovável, veja se sua companhia elétrica utiliza energia verde, se não oferece pergunte porquê. Eleja líderes que prometam resolver essa crise, escreva ao congresso, se não ouvirem concorra ao congresso. Plante árvores, muitas árvores, faça palestras na sua comunidade, ligue para as rádios, e escreva para os jornais, insista para que os EUA restringirem as emissões de carbono e une-se para parar com o aquecimento global. Reduza a nossa dependência de petróleo estrangeiro, incentive as lavouras que produzam álcool, aumente o controle de combustíveis e baixe as emissões dos automóveis. Se você acredita em oração reze para que as pessoas encontrem força para mudar. Como diz o provérbio africano: enquanto reza vá fazendo.
Encoraje a todos que conhecem para ver esse filme. Aprenda o máximo que puder sobre crise climática e depois ponha seu conhecimento em prática.”

Vale a pena assistir esta esclarecedora apresentação sobre o que está acontecendo com nosso planeta Terra e refletir sobre como você pode ajudar a salvá-lo profissionalmente e pessoalmente. Quem quiser também pode conferir um trecho do filme acessando
http://www.youtube.com/watch?v=h0V0x3HWUfE&mode=related&search.

Juliana A. Clementi

10 de abril de 2007

Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca


No dia 31 de março estive presente na reunião do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental – APA – da Baleia Franca, no Espaço de Gaia, ao lado da sede do Gaia Village em Garopaba.
Criada por Decreto Federal em setembro de 2000, seu objetivo é "proteger, em águas brasileiras, a baleia franca austral, Eubalaena australis, ordenar e garantir o uso racional dos recursos naturais da região, ordenar a ocupação e utilização do solo e das águas, ordenar o uso turístico e recreativo, as atividades de pesquisa e o tráfego local de embarcações e aeronaves"
[1]. Seu espaço geográfico, conforme indica o mapa, se estende da Ponta Sul da Praia da Lagoinha do Leste da Ilha de Santa Catarina até o Balneário do Rincão, ao sul do Cabo de Santa Marta, abrangendo nove municípios da costa catarinense: Florianópolis, Palhoça, Paulo Lopes, Garopaba, Imbituba, Laguna, Tubarão, Jaguaruna e Içara.
Estes dados indicam um grande número de públicos e atividades que são afetados pela APA da Baleia Franca. Nota-se que em cada município, além das comunidades, existem órgãos públicos, empresários, organizações não-governamentais etc e cada um deles possui suas características específicas. Neste início do plano de Relações Públicas observei que existe uma série de questões a serem consideradas. Por esta razão as ações, na maioria das vezes, não incluirão toda a população do município, e sim aquelas comunidades próximas de locais onde haja questões ambientais pendentes. Tais questões são múltiplas e diversificadas, uma vez que a APA estende-se do mar à terra, interfere desde atividades portuárias e esportes náuticos às atividades mineradoras, construções civis, circulação de automóveis na faixa de areia, entre tantas outras.
Cheguei a um ponto que muitos profissionais de relações públicas já haviam indicado: nem sempre é possível criar nossas estratégias da maneira mais “redondinha”, como seria se pudéssemos nos planejar sempre com base no livro “Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada” da mestre Margarida Maria Krohling Kunsch. Aí está o desafio, pois sem aquela estrutura organizada que aprendemos na faculdade, temos de lançar mão das estratégias de comunicação para estabilizarmos, com agilidade e eficiência, certas rupturas nas redes de comunicação da entidade a qual representamos. Após avançarmos nesse equilíbrio é que poderemos simultaneamente dar continuidade a essas ações e planejar um amplo esquema comunicacional e desta vez desta vez “redondinho”.
Por estas razões, inicialmente identifiquei algumas atividades que posso executar, mesmo considerando minha distância física do grupo que participo. Nos próximos meses, à medida que forem sendo implantadas, pretendo relatar algumas dificuldades, soluções encontradas e os resultados obtidos.
A princípio, cuidaremos de expandir o relacionamento da APA da Baleia Franca com a imprensa local, mediante o envio de releases e sugestões de pautas. A estratégia também pretende alcançar a comunidade de uma maneira mais objetiva do que se focássemos apenas a mass media.
Com a colaboração de alguns líderes comunitários, também conselheiros da APA, iremos estudar possibilidades de apoiar projetos dentro das comunidades separando-as por micro-regiões. Como mencionei anteriormente, é fundamental estabelecer uma relação constante e de confiança com este público, para que a ação da APA, mesmo tendo a parte técnica e burocrática muito bem executa, não se deparem com uma barreira ocasionada pela suspeição.
Outra ação “emergencial” trata de criar uma parceria com instituições de ensino, promovendo a produção científica e participação de estudantes, com a finalidade de contribuir técnica e cientificamente com as ações de ordenamento geográfico e proteção ambiental, em especial da Eubalaena australis, a baleia franca austral, promovendo o uso racional dos recursos naturais com base nos aspectos econômicos e culturais dos empresários e comunidades.

Na próxima postagem falarei mais dessa reunião, para relatar algumas das atividades desenvolvidas na proposta da Reserva Extrativista da Pesca Artesanal de Imbituba e Garopaba apresentada pela Cidinha, líder comunitária e conselheira da APA.

Quem quiser saber um pouco mais sobre baleias assita a animação em flash do site:

www.greenpeace.org.br/oceanos/conteudo_id=579&sub_?campanha=0&img=15&PHPSESSID=9ad532d69a6f4c5b637187ae7d36aa19



Até mais!


Juliana A. Clementi





[1] http://br.geocities.com/apadabaleiafranca/index.html. Acesso em 10/04/2007